Olá a todos! No vídeo de hoje, vamos mergulhar em um conceito fundamental da psicanálise, explorando as ideias presentes nos textos da Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, especialmente sobre “O Infantil na Psicanálise”
Quando pensamos em “infantil”, a primeira coisa que pode vir à mente é a infância, aquele período inicial da vida. E, de fato, a infância cronológica inspira Freud a olhar para o infantil. No entanto, a psicanálise nos convida a ir além dessa visão limitada pela idade
O Infantil Não é Apenas a Infância
É crucial entender que o infantil não se limita à infância. Apesar de tangenciar a psicanálise de crianças, ele concerne a todos os psicanalistas e a todos os psicanalisantes.
Historicamente, a noção de infância como uma etapa específica da vida com suas características próprias é uma construção histórica e cultural. Ela se consolidou em parte pelo discurso filosófico iluminista, visando educar crianças para assegurar o futuro da civilização.
As formulações freudianas, por outro lado, trouxeram um novo giro discursivo. Inicialmente, buscavam na infância a base para interpretar a vida psíquica adulta. Mas, com o desenvolvimento da teoria, houve um deslocamento: da palavra “infância” para o adjetivo “infantil”, e depois para o infantil como substantivo.
Essa passagem de adjetivo para substantivo foi fundamental, semelhante ao que ocorreu com o conceito de inconsciente. Reconhece-se, então, a permanência do infantil na constituição psíquica de todo sujeito, articulado ao desejo e, a partir de 1920, à angústia do real e ao trauma. O infantil, nesse sentido, é um conceito que permeia toda a formulação teórica da psicanálise.
O Infantil: Uma Dimensão Estrutural e Extratemporal
O infantil é visto como uma experiência “extratempo”. Ele está no cerne da psicanálise, instalando-se muito além da cronologia dos primeiros momentos da vida. É um solo fundante, arcaico e originário, que produz uma fratura necessária e impulsiona o sujeito a inventar uma ficção, uma história para si mesmo.
A existência do infantil no psiquismo não se restringe nem se dissolve com a infância. Ele está intrinsecamente ligado à pulsão. A dimensão estrutural do infantil refere-se à insuficiência fundamental do ser humano, ao desamparo comum a todos nós. Esse desamparo coloca a necessidade de nos inscrevermos numa ordem simbólica, o que só acontece mediado pela construção de uma fantasia.
A Prática Psicanalítica e o Infantil
Na clínica, seja com adultos ou crianças, é sempre o infantil que se faz questão. Ele tem contornos irregulares, é inapreensível e irredutível, sendo uma marca impressa do nosso eterno desamparo.
Na psicanálise com crianças, trabalha-se com o infantil no tempo de sua constituição. A análise de crianças é paradigmática, mostrando a transição do jogo imaginário com a mãe em torno do falo para o jogo da castração com o pai, muitas vezes mediado pelas teorias sexuais infantis e os “mitos” que a criança forja.
O analista atende à criança, mas aponta para o sujeito. Isso implica, muitas vezes, receber os pais, pois a criança ocupa um lugar no discurso e no fantasma parental. O ato psicanalítico é fundamental nessa prática, operando nos registros do real, simbólico e imaginário e visando a constituição ou relançamento da neurose.
Manifestações do Infantil
Em crianças, o brincar e o desenhar podem ser vistos como equivalentes das formações do inconsciente e da associação livre dos adultos.
Eles emergem do laço transferencial e do laço parente-filial e são formas de expressão simbólica do discurso inconsciente, aparecendo como um efeito da castração.
Outra dimensão importante ligada ao infantil é a voz como objeto a, a pura música que escapa ao dizível, objeto da pulsão invocante. É isso que sobra na operação de surgimento do sujeito no campo do Outro e resiste à significação. O analista, ao operar, faz semblante desse objeto para promover a ruptura da identificação do sujeito a ele.
O caso do Pequeno Hans, analisado por Freud e retomado por Lacan, é um exemplo clássico que ilustra essa passagem crucial no infantil, mostrando a irrupção do real do pênis e a confrontação com a castração materna, levando à construção da fobia como suplência e à viabilização do recalcamento.
Em resumo, o conceito de infantil na psicanálise nos convida a pensar sobre as origens, o desamparo constitutivo, a pulsão, o desejo e a complexa trama que nos estrutura para além da cronologia, uma dimensão sempre presente e operante em todos nós.
Espero que tenham gostado deste mergulho no infantil! Deixem seus comentários abaixo e me digam o que acharam! Não esqueçam de curtir e se inscrever no canal para mais conteúdo de psicanálise!